quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Cordel que deixou Rede Globo e Pedro Bial indignados...

Sensacional! ( Para Priscila Cotta)






Antonio Barreto



Antonio Barreto nasceu nas caatingas do sertão baiano, Santa Bárbara/Bahia-Brasil.

Professor, poeta e cordelista. Amante da cultura popular, dos livros, da natureza, da poesia e das pessoas que vieram ao Planeta Azul para evoluir espiritualmente.

Graduado em Letras Vernáculas e pós graduado em Psicopedagogia e Literatura Brasileira.



Seu terceiro livro de poemas, Flores de Umburana, foi publicado em dezembro de 2006 pelo Selo Letras da Bahia.

Vários trabalhos em jornais, revistas e antologias, tendo publicado aproximadamente 100 folhetos de cordel abordando temas ligados à Educação, problemas sociais, futebol, humor e pesquisa, além de vários títulos ainda inéditos.


Antonio Barreto também compõe músicas na temática regional: toadas, xotes e baiões.




BIG BROTHER BRASIL UM PROGRAMA IMBECIL.

Autor: Antonio Barreto, Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão 'fuleiro'
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, 'zé-ninguém'
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme 'armadilha'.

Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Da muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social

Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério - não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os "heróis" protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
"professor", Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mau exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos "belos" na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos "emburrecer"
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados

Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal.
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal.

FIM

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O príncipe e o beija flor

Esta não é uma história sobre o perdão! Não é uma história de amor; mas, também não é uma obra de ficção. É uma fábula, um conto quase encantado, de um reino distante e não tão encantado quanto o conto.

Era uma vez um bichinho, que vivia em um mundo simples, selvagem e feliz. Vivia solto...Tinha vôos prosaicos, mas aprendia muito nessa simplicidade com a qual vivia. Em sua floresta, era tudo mágico, encantado. Tudo tinha vida! Conhecia cada flor, e as chamava cada uma por seu nome. Por menor que fosse, tratava a todas com o mesmo carinho e cuidado. Como pássaro, cultivava a essência da liberdade, da leveza e da beleza que há nas coisas mais corriqueiras; conseguia ver riqueza em seres microscópicos e descobria tesouros onde ninguém imaginava, pois, enxergava a fórmula da beleza: um acordo entre forma, conteúdo e abstrato.
 Seus olhinhos brilhantes observavam lá no fundo da polpa. Buscava o que estava por dentro das plantas e fazia exalar o perfume que os habitantes além da floresta mágica não conheciam, e com o qual se intrigava.
Voava em paz. Fazia voos profundos. Era feliz assim, tendo seu mundo abaixo de suas asinhas, para pousar quando quisesse. Se sentia seguro e confiante. Era amado e sabia liberar amor, e, embora fosse um animal silvestre e selvagem, era de fácil domesticação.
Um dia, o sol estava lindo! Os outros passarinhos cantavam e o coração do pássarinho estava radiante pela vida maravilhosa que se apresentava diante dele todos os dias. Agradecia à Deus a todo o tempo pela paz de seu reino e a felicidade de seu coração. Voando nos limites de sua floresta, o animalzinho  viu-se observado por um ser de outro reino. Era grande e parecia um ser muito poderoso, mas possuía lindos olhos de citrino! Apesar de pertencerem a mundos diferentes, os dois seres se entenderam e se gostaram à primeira vista.
O ser de outro reino pediu para conhecer a floresta encantada e assim foi concedido. Entrou no palácio do passarinho, viu a alegria que adornava seu ambiente. Não tinha luxo, mas, era sólido, puro, feliz. Onde não existia mal, nem guerras, nem choro e todos os habitantes e quem chegasse poderiam viver felizes e em paz. As paredes eram de risos e sons do vento que entravam suavemente balançando as longas penas coloridas e sedosas do passarinho, que dentro de sua natureza selvagem, possuía tamanha delicadeza capaz de destruir muros intransponíveis.
O ser do outro mundo, acostumado a reinos construídos de pedra e onde todos tinham a mesma força bruta e pesada, escondeu do novo amiguinho sua natureza árida, gélida e hipnotizante que possuía. Convidou-o a alçar voos além dos limites da floresta. O passarinho, por um momento hesitou, mas, encantado pela beleza dos olhos de citrino e dos afagos que ganhara em suas asinhas, lançou-se com o desconhecido para explorar seu reino de pedras nada preciosas. Ele não poderia imaginar a existência de um mundo em sépia, já que seu reino explodia em cores, e sons e risos.
 O amigo estrangeiro, que parecia tão bondoso e encantador, lançou-o às feras famintas e enlouquecidas de seu reino destruído por guerras internas, onde só prevaleciam as imponentes muralhas, que, vistosas por fora, davam a impressão de um grande reino, uma poderosa cidade, mas que por detrás dos portões, amontoavam-se em cinzas e escombros. Guetos por onde ele se escondia. E as feras atacaram o pequeno pássaro que não sabia fazer guerra, pois,não fora criado para isso. Fora criado solto, livre, vendo vida e graça em todo ser existente.

O pássaro então, esquivou-se das bestas insanas e conseguiu, mesmo com seu corpinho machucado, com as asinhas quebradas e o coração despedaçado, escapar com vida. Foi sarando as feridas de seu corpo, selou seu coraçãozinho e ainda espera as asinhas se recomporem para poder voar de novo.
Quanto ao ser horrendo que o traiu, ele continua atrás das muralhas de seu reino imponente. Ainda tentando alimentar as feras que ele próprio concebeu em suas entranhas. Recolheu-se em seus salões negros e de úmidas pedras a fim de preparar sua mais nova caçada.
Se o passarinho declarou guerra ao reino inimigo a fim de vingar sua honra e o sangue derramado? Não! Jamais um ser tão abençoado, tão cheio de luz e coisas boas poderia gastar sua energia com vingança. Ele só queria continuar feliz como estava. Conheceu algo que o deslumbrou; uma coisa que dá cócegas no estômago e arrepios na coluna, que os humanos ( seres de outro reino mais distante que esse) chamam amor. E descobriu que amor é bom. É gostoso. Amor faz rir.

O passarinho não pensa me vingança. Ele aprendeu que o mundo fora da sua floresta tem pouco a ver com o amor. Que fora dos limites de seu mundo, os seres não são felizes, mas, precisam mostrar-se assim para atraírem novas presas e até mesmo outros seres da mesma espécie que podem acrescentar mais uma pedra às suas paredes. Viu que são construídos de maneira suntuosa, mas, suas muralhas são feitas de uma beleza que se desfaz com as lágrimas dos que cruzam seus portões.
Se o beija flor vai conseguir perdoar? Isso ainda é incerto. As dores ainda o impedem de voar novamente mesmo dentro de seu reino. Ele é um ser que acredita sinceramente que, em algum lugar, há olhos que anotam aquilo que nossa boca e nossas mãos tentam esconder.

Como eu disse, essa não é uma história sobre o perdão. Mas, sobre identidade. Sobre quem somos de verdade. Sobre o que existe em nosso íntimo cada vez que nos maquiamos, nos vestimos de príncipes e princesas para alimentarmos nossos demônios.